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O futebol apaixonante viveu mais uma noite especial nesta quarta-feira, em Dublin. A capital irlandesa recebeu a final da Liga Europa, e a Atalanta conseguiu um feito inédito e inesquecível. Através das mãos de Gian Piero Gasperini, o técnico que reescreveu a história do clube, das melhores campanhas da equipe na Serie A até o título internacional, da Liga Europa, diante do até então invicto Bayer Leverkusen. Um verdadeiro conto de fadas.
Até chegar em Bérgamo, Gasperini havia tido carreira sem tanto alarde. De boas campanhas no Genoa, sim, com acesso para a Serie A e bons momentos na elite. Foram quase 300 jogos pelo clube, até que, em 2016, o treinador se mudou para a Atalanta.
O técnico se tornou referência para implementar um novo estilo de jogo nos Orobici. Desenvolver jovens da base, implementar uma filosofia de jogo ofensiva e competir de igual para a igual contra os grandes eram os pilares do início de trabalho do comandante por lá.
Uma nova Atalanta
Gasperini já era conhecido pelo 3-4-3 que usava em Genoa. Na Atalanta, o esquema caiu como uma luva, e o uso dos alas como protagonistas no último terço logo passou a ser uma das principais características da equipe. Hateboer, Gosens, Castagne se tornariam importantes no projeto. Até Guilherme Arana chegou a ser contratado para tal função, embora tenha ficado pouco por lá (fez apenas quatro jogos).
A marcação alta, com pressão intensa, que atrapalhou o Leverkusen nesta quarta, se tornou uma marca do time desde o início do trabalho. Transições em velocidade, com troca de passes objetivas, e a liberdade posicional no último terço tornaram o jogo da equipe irresistível, surpreendendo os grandes na Itália.
Logo na primeira campanha, Gasperini colocou a Atalanta em quarto lugar na Serie A. Em três campanhas seguidas, entre 2018/19 e 2020/21, o clube terminou o campeonato na terceira colocação, lugar nunca antes atingido na história.
Gasperini nunca teve a seu dispor jogadores caros, contratações milionárias e bombásticas. Não era de gastar milhões. Era de fazer milhões. Era de trabalhar bem o elenco coletivamente, de preparar jovens para o sucesso. E preparou tantos…
Jogadores que depois atuaram em gigantes da Europa foram moldados por Gasperini em Bérgamo: Amad Diallo e Hojlung (United); Gosens (jogou na Inter), Romero e Kulusevski (Tottenham); e Alessandro Bastoni (Inter de Milão), são alguns dos exemplos de sucesso.
Bérgamo e Gasperini: história entrelaçada
Gasperini deu uma identidade ao time, lapidou promessas e, ao mesmo tempo, colocou os valores da cultura local, de um povo trabalhador e resiliente, no dia a dia do clube. Em campo, você vê a Atalanta de Gasperini. Mas vê também Bérgamo.
A história do clube, da cidade e do treinador foram se entrelaçando ao longo dos últimos anos. Na pandemia da Covid-19, Gasperini foi exemplo participando de campanhas de conscientização e ajudando a cidade no dia a dia, mas também comandando o clube em trajetória inspiradora na Liga dos Campeões, com eliminação nas quartas para o PSG com uma virada doída, com dois gols já nos acréscimos.
Na campanha seguinte, a história de amor teve, talvez, um de seus momentos mais conturbados. Gasperini discutiu no intervalo do jogo diante do Midtjylland, pela Liga dos Campeões, com o capitão Papu Gómez. A relação, naquele momento, foi rompida, rusga que durou até recentemente.
Papu acabaria afastado e, em seguida, negociado com o Sevilla, o que dividiu parte da torcida (alguns ultras apoiavam o meia). Na temporada 2021/22, talvez a pior de Gasperini em Bérgamo, os Orobici terminaram em oitavo lugar na Serie A e caíram na primeira fase da Champions.
Sem o capitão, que era também a referência técnica, o time teve de se reconstruir. Os meias box to box passaram a ser dominantes no elenco, com a chegada de Éderson, o maior protagonismo de Koopmeiners e a importância também de Pasalic e Malinovskyi.
Na atual temporada, a Atalanta, além de brigar pelas primeiras colocações na liga, conseguiu, também, disputar títulos. Chegou na final da Copa da Itália, único título de elite conquistado pelo clube, há mais de seis décadas atrás, e na grande decisão da Liga Europa.
Na verdade, o ânimo dos torcedores não estava nem tão grande. Até o dia 11 de abril. Em Anfield, a Atalanta enfiou 3 a 0 no Liverpool. Foi, talvez, o ápice do trabalho de Gasperini. Até a noite de quarta-feira.
Depois da vitória em Anfield, o time perdeu apenas dois jogos em 12. Um deles foi a final da Copa da Itália, que tirou de Gasperini a chance de conquistar o primeiro título da carreira. Uma noite inspirada de Vlahovic deu o troféu para a Juventus.
Nesta quarta, porém, diante do invencível Bayer Leverkusen, de Xabi Alonso, Gasperini escreveu, com tinta dourada, a página mais bonita da história da Atalanta. Com direito a triplete de Lookman, o clube conquistou o primeiro título internacional da história, da Liga Europa. Gasperini comemorou seu primeiro troféu da carreira de técnico, aos 66 anos. Subiu até as arquibancadas para abraçar os torcedores. Queria abraçar Bérgamo inteira. Mas Bérgamo o aguardará de braços abertos. Para celebrar a conquista, e continuar escrevendo uma das histórias mais bonitas do futebol atual.
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