Home Futebol A ciranda do tempo e o zagueiro brasileiro que desafia os craques na Arbia Saudita

A ciranda do tempo e o zagueiro brasileiro que desafia os craques na Arbia Saudita

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A ciranda do tempo e o zagueiro brasileiro que desafia os craques na Arbia Saudita

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Paulo Ricardo enfrentou as estrelas do Campeonato Saudita em 2024. Mas também já atuou ao lado delas. As viu, inclusive, nascer. E foi, um dia, um Menino da Vila. Em fim de contrato com o Al Hazm, pondera quanto ao futuro. Em meio as lembranças de uma carreira que parece uma vida. 

E de fato, no futebol, o tempo passa de uma forma diferente. Você vive, em uma década, o que muitos não conseguem fazê-lo em cem anos. Como se fosse um personagem de Gabriel García Márquez, você vê protagonistas e coadjuvantes diante de seus olhos. Aos montes. Numa ciranda do tempo. Sem conseguir o tempo controlar. 

O menino Paulo Ricardo deixou os pais aos 13 anos de idade. “Para tentar o sonho de muitas crianças, que era o meu também”. No país do futebol, seu primeiro presente é uma bola. Mesmo sem perguntá-lo, sei que foi o primeiro de Paulo Ricardo. 

 Catarinense de Laguna, passou pelas categorias de base de Brusque e Figueirense até ir para o Santos. Menino da Vila, guarda com carinho os dois títulos de Copinha. E a estreia no profissional, em um clássico contra o Palmeiras. Jogou um minuto. Que pareceu uma vida. Tocou uma vez na bola. Mas jamais esquecerá aquele dia. Aquele time. Aquela Vila Belmiro… 

“É impossível esquecer tudo que passei ali”, disse, em entrevista para oGol

Da Vila Belmiro para o mundo. Vice-campeão da Copa do Brasil de 2015 no Peixe, foi rodar o mundo, e colecionar histórias. Sion virou sua casa. E foi, também, a casa de Matheus Cunha, jogador da seleção brasileira que Paulo Ricardo fez questão de ajudar. Cunha era apenas um adolescente quando chegou na Europa, e viu no zagueiro uma referência importante. 

“Na segunda temporada minha na Suíça, o Matheus Cunha chegou, muito novo, acho que 18 anos. Logo de cara, a gente podia ver que tinha muita qualidade, boa força física, e que iria se destacar facilmente no país. Acho que em seis meses ele já era titular e fazia jogos muito bons. Virou artilheiro naquele ano e é um menino que não é surpresa estar onde está, jogando Premier League, passagem pela seleção. Grande talento, acho que pode ajudar muito a seleção. É um jogador que admiro bastante. No começo, ajudei ele com o francês, mas com pouco tempo ele já estava falando. Inclusive, acho que ele fala várias línguas, incrível a facilidade que ele tem de aprender as coisas”, diz um elogioso Paulo Ricardo. 

Foram duas temporadas por lá, 35 jogos, dois gols… Voltou ao Brasil. Encontrou nas Laranjeiras Fernando Diniz. Ainda muito contestado. Sem o “escudo” dos títulos para se defender dos críticos. Mas já com uma ideia de futebol muito bem definida. 

“É um treinador que exige muito. Não foi à toa, que ele conseguiu ganhar a Libertadores. Além de ter um time de qualidade, que se encaixou no estilo de jogo dele. Precisa de jogadores de muita qualidade. Quando encaixa, é muito interessante de ver. Acho que, além dessa Libertadores que ele ganhou, acredito que possa ter mais títulos. Fiquei muito contente de ter essa passagem pelo Fluminense, um time gigantesco”, lembra o defensor. 

Paulo Ricardo ainda voltou para Santa Catarina, para jogar como profissional no Figueirense. Algo que não havia feito lá no início da carreira. Mas logo voltou para a Europa. Para a Finlândia. Coloca, de novo, a luva… 

“O que me fez ir para a Finlândia foi a oportunidade de voltar para a Europa. Ter qualidade de vida e poder jogar campeonatos europeus. Foi um ano e meio de pura felicidade, junto com minha família (…). País lindo, muita qualidade de vida. Um país que está crescendo no futebol. Há um tempo atrás, a seleção esteve bem na Eurocopa… Acredito que possa crescer bastante ainda. Apesar do frio, eles têm a capacidade de contornar essa situação, porque têm estruturas boas. Durante o frio extremo, a gente treinava em campos cobertos”. 

O brasileiro foi de um extremo ao outro: saiu da fria Finlândia para jogar na quente Arábia Saudita. Assim como os finlandeses se adaptavam, também os sauditas… E Paulo Ricardo, por conseguinte. 

“Nós treinamos quase sempre de noite, exceto quando é inverno, aí treinamos de tarde. A mudança é que nós temos um horário um pouco diferente. Quando a gente treina de noite, a gente dorme mais tarde, acorda mais tarde. A vida aqui é noturna, até pelo calor, difícil sair durante o dia, caminhar, esse tipo de coisa. Mas em pouco tempo a gente consegue se adaptar. Não chega a ser um problema”, contou.

O Al Hazm estava na segunda divisão quando o brasileiro chegou. Subiu. Paulo Ricardo teve a chance de enfrentar grandes  nomes do futebol mundial: Benzema, Mahrez, Saint-Maximin, Sané, Kanté… Preferiu destacar seus compatriotas. 

“O que eu posso dizer é que eles têm uma qualidade técnica absurda. Se eu pudesse destacar alguns, eu diria que os brasileiros, que fazem muito sucesso aqui: Malcom, Talisca e Michael. A intensidade deles, a qualidade técnica, é incrível. Os outros são craques mundiais, mas eu, também por ser brasileiro, e gostar dos nossos jogadores, acredito que esses três fazem uma diferença incrível para os clubes deles”, analisou. 

Malcom e Michael jogam lado a lado no Al Hilal, campeão soberano do futebol saudita, dono de uma sequência de vitórias nunca antes vista no futebol mundial. Paulo Ricardo destacou a força do rival, que foi um verdadeiro carrasco durante a temporada. 

“A principal questão de o porquê que eles foram campeões é justamente a intensidade dos jogadores e a cobrança, no bom sentido, do Jorge Jesus, para manter a intensidade, mesmo o time ganhando. Além dos grandes jogadores que eles têm, a intensidade, do início ao fim do jogo, não importa o placar, a intensidade era sempre igual, e sempre buscando o gol”. 

O Al Hazm acabou rebaixado novamente para a segunda divisão. Paulo Ricardo não esconde que a temporada não “foi como gostaria”, mas ressalta a parceria com o brasileiro Bruno Viana, companheiro de zaga. 

” Agradeço muito a dupla que tive, que foi o Bruno Viana. Jogador de extrema qualidade, focado. A facilidade de comunicação entre a gente nos ajudou muito também. Foi uma das melhores duplas que tive na carreira”, destacou. 

Agora, ainda com um jogo por fazer por lá, o zagueiro pondera quanto ao futuro. Embora, de fato, o que mais esteja aguardando seja as férias com a família… 

“Já estamos no final da temporada, ainda não decidi como vai ser a próxima, se fico aqui, ou não. Mas o que só penso é terminar o último jogo da melhor maneira possível e poder sair de férias com minha família, aproveitar o máximo, no Brasil. Depois, começo a pensar nisso de novo, para onde vou, como vai ser a próxima temporada. Não descarto nada, mas, no momento, quero apenas pensar em terminar o último jogo e aproveitar com minha família”. 

Uma pausa na ciranda do tempo. 

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