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Uma história digna de filme. Aliás, uma epopeia escrita com emoção, superação, resiliência e muita (muita!) paixão envolvida. O protagonista? Kevin Serna. Muito antes de chegar ao Fluminense, campeão sul-americano, Serna teve de driblar as probabilidades, deixando seu país natal para tentar a sorte no futebol semi-amador de Portugal.
É com a ajuda de nossos parceiros lusos do zerozero.pt que trazemos a curiosa trajetória de Kevin Serna por Portugal. Natural de Popayán, Serna chegou à cidade de Matosinhos, na região metropolitana do Porto, em 2018. O objetivo: jogar na distrital do Porto, um parente muito menos nobre dos nossos estaduais. Trouxe com ele um bagagem bem pesada: muitos sonhos e uma fé inabalável. A partir de então, “muito trabalho”, “humildade” e “talento”.
Palavras que rapidamente se transformaram em ações. Foram poucos meses nos modestos clubes Perafita e Serzedo. A meia temporada em solo português foi o suficiente para Serna provar que estava destinado a saltos mais altos, retornando à América do Sul já em outro nível competitivo: um salto significativo na carreira.
Seguiram-se Paraguai e Peru. Foi destaque no tradicional Alianza Lima, em uma trajetória sempre ascendente até chegar ao seu maior desafio na carreira: o Fluminense, campeão sul-americano.
Uma autêntica lição de vida que ilustra a essência e a imprevisibilidade do futebol. Para contar as peripécias do jovem Serna no início de carreira, escutamos Vitor Fafiaes – ex-vice presidente e diretor de futebol do Perafita entre 2015-2021 – e Edgar Ramos – ex-técnico do Serzedo entre 2016 e 2021. Ambos contam a história de um “Garoto introvertido”, “educado”, “focado no trabalho” e com vontade de “chegar ao topo do futebol”.
Do Perafita para o Mundo: “Kevin era um exemplo”
Kevin Serna com os colegas no Perafita, em 2018 @Arquivo Pessoal
A primeira grande questão é muito simples: como é que um jovem colombiano chega ao Perafita? O clube de Matosinhos conseguiu reforços improváveis graças a um acordo para receber promessas da Colômbia, prometendo experiência e visibilidade para abrir portas na Europa.
“Tínhamos um acordo com uma empresa que tinha a capacidade para trazer vários jogadores estrangeiros. O objetivo passava por potenciar jogadores jovens de qualidade e com valores para estarem no clube. Nós, na estrutura, depois tínhamos um percentual do acordo”, começou por dizer Vitor Fafiaes.
“O Serna veio de uma base da Colômbia com quem tínhamos uma relação estreita. O protocolo, pouco tempo depois, começou a ter problemas, entraram em choque com o treinador e depois tivemos de romper o acordo”, continuou.
“O projeto que estava acordado era o seguinte: eles vinham para o Perafita, trabalhavam para se adaptarem ao futebol europeu – porque há sempre diferenças para o futebol sul-americano – e tentavam dar um salto na carreira. O Kevin chegou referenciado como sendo um pouco melhor do que os outros, mas todos os garotos que vieram da base da Colômbia eram muito bem formados, bem educados e muito focados no trabalho”, resumiu.
“Acordavam e deitavam-se a pensar no futebol. Treinavam muito individualmente. O Kevin era um exemplo”, elogiou.
[Obs: apenas dois dos quatro colombianos – Santiago Florez (Lixa) e Farid Romero (Gzira United) – seguem em atividade, enquanto Camilo Clavijo e Billy Candelo já se aposentaram.]
“Oh mister, de onde é que isto veio?”
Poucos meses após a experiência no Perafita – que resultou na quebra do acordo entre as partes -, quatro colombianos seguiram para Gaia. Edgar Ramos, atual diretor de futebol do Serzedo, não demorou até identificar o talento de Kevin.
@Arquivo pessoal
“Foi uma situação muito curiosa. Estava em Serzedo – pré-temporada-, eu e a minha equipe técnica nos dividimos para vermos os adversários e, de repente, recebo uma chamada de um dos colaboradores. Ele disse-me: ‘olha, tens de vir aqui porque o Perafita tem uma equipe muito boa e há aqui vários jogadores que se destacam muito’. Um deles era, claro, o Serna”, começou por explicar.
“Com muita pena nossa ele jogava no Perafita. Mas, depois, conheci o empresário dele em fins de outubro e, passado um mês, ele ligou-me para saber se tinha interesse em algum jogador dele”, recordou.
“Em tom de brincadeira, disse que tinha interesse no Serna e ele riu. Contudo, também me disse que não era algo fora de propósito porque o Serna estava a começar a jogar menos no Perafita e até me disse que andava um pouco triste”, apontou.
Serna acabou por seguir para o Serzedo, onde esteve pouco tempo em ação. O suficiente, ainda assim, para “marcar a diferença”.
“Assim que começou a treinar vi que estava ali algo fora do normal. Os meus atletas disseram-me logo: ‘oh mister, de onde é que isto veio? Isto não é para jogar aqui’. Ficaram todos surpreendidos”, descreveu sobre a reação ao talento do colombiano entre os seus colegas de time.
“Ele acabou por jogar o mês de janeiro e, numa quinta-feira (vésperas de um dérbi gaiense), o empresário do Serna disse-me que não iria contar mais com o jogador porque ele já estava a caminho do Paraguai. Fiquei com as mãos na cabeça porque ele estava a ser importante e fazia gols de qualquer jeito. Foi, naquele mês, o grande destaque da equipe. Ele fazia a diferença”, continuou.
Edgar Ramos, ex-treinador do Serzedo
“O empresário até queria ter feito um contrato, mas o clube ainda não estava preparado para essas ‘andanças’ e era complicado assumir algo porque teríamos muita despesa com ele. Assim, veio só jogar, mas é natural que tenha começado no banco. Lembro-me perfeitamente do primeiro jogo deles: começaram todos no banco, mas o Serna entrou”, disse.
Um jovem “introvertido”, com vontade de “chegar ao topo” e com muitas qualidades, dentro e fora de campo. Para o ex-treinador de Serna, a mentalidade estava lá e o “corpo acompanhou”.
“Notava-se que ele queria chegar ao topo do futebol. E é o que eu digo aos meus atletas: têm de acreditar. O que o Serna conseguiu é algo fora do normal”, confessou.
Já dentro de campo, o colombiano também não deixava ninguém indiferente. Vítor Fafiaes recorda um jogador veloz, muito técnico, com um grande drible e compara Serna a um jogador com história no futebol português, com passagem pela seleção.
“Era muito diferente dos outros. Era rápido e muito técnico, com um controle de bola em velocidade incrível. Era um Rafa Silva um pouco mais completo, porque também jogava bem de cabeça e tinha, na minha opinião, uma capacidade de drible ainda maior que o Rafa”, afirmou o ex-diretor e vice-presidente do Perafita.
Por sua vez, Edgar recorda de um jogador “decisivo”, que “marcava de qualquer forma e jeito” e que “tem tudo para triunfar”, agora no Fluminense.
“Ele era um jogador que fazia muito a diferença no último terço do campo. Tinha 1×1, qualidade na finalização, marcava de falta, é um garoto que tem tudo para triunfar. Tenho todo o orgulho por ele ter passado por mim, apesar de só ter sido apenas um mês. Ainda hoje mantenho ligação com ele”, finalizou o ex-técnico, de 45 anos.
[Abaixo, Kevin Serna, no vídeo, a marcar de falta pelo Serzedo, em janeiro de 2019]
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