A América do Norte a terra do Donuts, do Maple Syrup, do Poutine, de calor e frio extremo. Do basquete da NBA, do hockey da NHL, do baseball da MLB. E tambm a terra do soccer.
O fim de semana marcou o adeus de uma das maiores jogadoras da seleção estadunidense de futebol: Alex Morgan se despediu dos gramados na partida entre San Diego Wave e North Carolina Courage. A semana, que poderia ser apenas marcada pelas homenagens a Morgan, dividiu atenções com o polêmico documentário da disputa jurídica entre Hope Solo e a U.S Soccer, lançado pela Nexflix.
Ex-companheira de Hope, Morgan perdeu a motivação após a não convocação para as Olimpíadas. A temporada de despedida começou com o gol do título da NWSL Challenge Cup em cima do Gotham F.C. O San Diego, entretanto, vive sequência negativa na NWSL: o time não vence há quatro meses e está a dois pontos da lanterna.
Em sua Last Dance, Morgan tentou iniciar a reação da equipe no campeonato. Depois de ter perdido um pênalti aos nove minutos (méritos para a grande defesa de Casey Murphy), a camisa 13 deu a assistência para Kennedy Wesley empatar o jogo de cabeça, em 1 a 1, após cobrança de escanteio. Tinha que ser aos 13 minutos…
Pouco depois da assistência, Morgan acabou substituída por Amirah Ali. O San Diego acabou goleado, por 4 a 1. O North Carolina ainda contou com a estreia da brasileira Aline Gomes, ex-Ferroviária.
A goleada, a temporada de um gol em 14 jogos, a campanha que beira a lanterna, a não convocação para as Olimpíadas… Nada disso ofusca a fenomenal carreira de Alexandra Patricia Morgan Carrasco, bicampeã do mundo, campeã olímpica, campeã da Liga dos Campeões, da NWSL e da Liga Francesa. A camisa 13 ganhou outro significado nos Estados Unidos após Alex Morgan…
Hope ateia fogo
Hope Solo foi companheira de Alex Morgan em duas Olimpíadas e duas Copas do Mundo. Esteve ao lado de Morgan no início da batalha por salários iguais para as mulheres no futebol. Até que, segundo ela, foi obrigada a caminhar sozinha.
No documentário lançado pela Netflix na última semana, Solo falou sobre os bastidores da luta, diz ela, quase que solitária por direitos iguais no futebol e criticou, uma vez mais, Morgan e outras antigas companheiras.
Recorde-se: em 2016, cinco jogadoras – Hope Solo, Carli Lloyd, Megan Rapinoe, Rebecca Sauerbrunn e Alex Morgan -, apresentaram uma queixa à Comissão de Igualdade de Oportunidades de Emprego contra a U.S Soccer por discriminação salarial baseada no sexo, que violaria o Título VII da Lei dos Direitos civis de 1964, tal qual a Lei de Igualdade Salarial.
Após os Jogos Olímpicos do Rio em 2016, Hope teve o contrato rompido com a U.S Soccer por, segundo a federação, comentários anti esportivos contra a seleção sueca (Hope chamou as suecas de “covardes” após derrota nas Olimpíadas em jogo que o time de Pia Sundhage – Suécia – jogou bem recuado).
“Eu não tive jogo de despedida, que toda jogadora veterana, na história dos Estados Unidos, teve. Eu joguei três Olimpíadas, três Copas, mais de 200 jogos pelo meu país… Dei minha vida ao jogo, ao país, ao esporte, para a federação…”, contestou Hope.
Após o rompimento, a goleira entrou em contato com as companheiras de seleção confirmando que entraria na Corte Federal com um processo contra a federação. “Não tive resposta”. Eventualmente, as outras atletas seguiram Solo e processaram a U.S Soccer.
Em 2022, as jogadoras da seleção chegaram a um acordo de 24 milhões de dólares com a U.S Soccer e encerraram o processo. Morgan, como toda a mídia e as outras jogadoras, qualificou o acordo como “histórico”.
“Foi realmente o que estávamos propostas a fazer, buscar igualdade em todas as frentes, e conseguimos alcançar isso. É um momento de orgulho para todas nós”, disse Morgan ao Today Show na época do acordo.
Hope Solo, por outro lado, viu o acordo como um passo que não alterou completamente o cenário. “Nós falhamos. Conseguimos melhorias, mas não era por isso que estávamos ali. Elas pegaram o caminho mais fácil”, comentou.
Rich Nichols, advogado que representou as jogadoras inicialmente no litígio, explicou a ótica de Solo, em contraste com o cenário apresentado pela U.S Soccer e pelas jogadoras.
“Elas não chegaram a um acordo por salários iguais. O mundo pensa que sim, mas não. O que elas conseguiram foi um acordo de 24 milhões de dólares para resolver o litígio e uma promessa da U.S Soccer que, em caso de algumas condições favoráveis no futuro, haverá acordo por salários iguais”,comentou.
Em comunicado, negando a versão de Hope, a U.S Soccer garantiu que chegou a um acordo com os sindicatos de jogadoras e jogadores para a igualdade salarial “com termos econômicos idênticos”. “A U.S Soccer se torna a primeira federação a igualar os prêmios em dinheiro da Copa do Mundo da Fifa”.
Ainda segundo a federação, o acordo alcançado “inclui compensação idêntica para todas as competições e a mesma divisão dos lucros por receitas comerciais para os dois times”.
Hope e Morgan dividiram o mesmo vestiário, o mesmo campo, o mesmo tribunal e, apesar de discordâncias, lutam a mesma batalha. No olimpo do futebol, serão sempre lendas, nunca esquecidas.