Não há muito mais espaço para subjetividade nas avaliações. A seleção brasileira atual, por praticamente qualquer prisma, pode ser considerada candidata em uma discussão sobre as piores versões de sua história. A derrota para o Paraguai foi apenas mais um evento desanimador no percurso pós-Catar.
Nos últimos cinco jogos nas eliminatórias, foram quatro derrotas. A única vitória nessa sequência foi contra o Equador, em uma atuação apagada, em casa, com um gol desviado em chute de Rodrygo, em um lance de alguma sorte.
Com a derrota para o Paraguai, o Brasil conseguiu garantir, por antecipação, a sua pior participação em um primeiro turno de eliminatórias para Copas. O pior desempenho anterior data de 2010, quando a seleção encerrou o turno com 16 pontos. Mesmo que vença em seu nono jogo no torneio atual, a equipe de Dorival Júnior pode, no máximo, somar 13 pontos.
Os recordes negativos não param ai. O Brasil nunca havia sofrido mais que duas derrotas no primeiro turno das eliminatórias, e isso com o pior ataque ao fim de oito jogos, com apenas nove gols. Com mais da metade da disputa ainda pela frente, a seleção está a apenas duas derrotas de atingir o recorde negativo de 2002, quando perdeu seis vezes ao longo da campanha.
Falta planejamento, falta organização… Falta qualidade?
Já não podemos falar apenas em falta de estabilidade e planejamento, ou incompetência do comando técnico. Já foram três treinadores que passaram pelo comando após Tite, dois deles interinos. Dorival Júnior completou 10 jogos como treinador brasileiro. Em todo o período pós-Catar, o Brasil apresentou, no máximo, lampejos de bom futebol em jogos isolados, com destaque para o início da curta “Era Diniz” contra a Bolívia, a boa vitória sobre a Inglaterra e a goleada sobre o Paraguai na Copa América, já sob comando de Dorival.
Com Ramon e Diniz, o Brasil teve dificuldades em especial no setor defensivo. A seleção sofreu gols em oito dos nove jogos disputados em 2023. Dorival conseguiu um melhor ajuste no setor defensivo, mas não conseguiu colocar seu time para criar. Em especial quando o time adversário se mostrou confortável em seu campo, sem precisar abrir espaços. Contra o Paraguai, a seleção foi um deserto de ideias ofensivas. Já tinha sido assim contra o Equador e na Copa América, com exceção justamente da goleada citada acima contra os próprios paraguaios.
As críticas aos técnicos, por mais justas que possam ser, podem acabar por mascarar uma realidade ainda mais preocupante: falta qualidade ao Brasil. Não em todos os setores, mas é um exercício difícil relembrar, nas últimas décadas, uma seleção base com tantas limitações e tão desequilibrada. Em desempenho, está mais que claro que a seleção vive um dos piores momentos de sua história. No papel, a situação também é preocupante.
Faltam laterais; faltam meias criativos; faltam centroavantes; falta experiência para os mais talentosos; faltam referências técnicas, craques que desequilibrem com a camisa da seleção e sirvam de modelo para os mais jovens.
Nas eliminatórias mais fáceis da história, com seis seleções de 10 da América do Sul com vaga garantida na Copa do Mundo, o Brasil sente-se ameaçado de uma ausência inédita. Um feito ainda improvável, mas que parecia impensável quando o novo modelo de eliminatórias foi anunciado. Ainda há esperanças de evolução até 2026, claro. Mas será preciso mudar muita coisa para que a seleção cumpra com a profecia de Dorival Júnior e chegue na final da Copa do Mundo. No momento, o técnico deve se preocupar em levar este pouco convincente grupo de atletas até lá…